segunda-feira, 21 de março de 2011

domingo.

‘andar à toa é coisa de ave.
meu avô andava à toa.
não prestava pra quase nunca
mas sabia o nome dos ventos
e de todos os assobios para chamar passarinho.
[...]
penso que meu avô era provedor de poesia
assim como as aves e os lírios do campo’
[Manoel de Barros]



                Hoje também é dia especial. É dia Internacional da Poesia!, bem o tipo de data de nascer gente importante feito Lau Siqueira e de anteceder aniversário de outras gentes importantes feito Matteo Ciacchi e Mariana Oriá. Falha minha, no entanto, é postar um poema que não fale destas pessoas – perdão por isso. Não, não. Hoje é dia do meu avô.

                Paulo Leminski disse uma vez que existem dois tipos de poeta: aqueles que escrevem e aqueles que lêem. Nada mais acertado! Alguém que leu e apreciou poesia a vida toda é menos poeta que contadores de sílabas? Eu vou um pouco além de Leminski, pois conheço três tipos de poeta: aqueles que escrevem, aqueles que lêem e aqueles que são avôs.

                Passei o carnaval em sua companhia. Vi seus olhinhos apertados brilhando quando o falei do meu segundo livro. Vi também surpresas nos mesmos olhos diante do que já se estava escrito. Esse poema é para o meu avô, Sálvio, que diz não entender nada de poesia, mesmo achando bonito, e que cria passarinhos soltos no seu apartamento e na sua mente – ele voa fora da asa e é poeta também.





um dia,
um passarinho fez um ninho sobre meu caderno.
pouts, justo nesse caderno onde deito versos!
tranqüilo,
o passarinho aconchegou seu vôo entre
as páginas virgens em branco das minhas palavras.
arrastou sobre as pautas suas asas – literatura potencial -
e preencheu-as, urgente e inevitável, de poesia – finalmente!
causou ciúmes no meu lápis.
foi nesse dia que meus poemas voaram tardes
e cantaram céus azuis.


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