quinta-feira, 25 de novembro de 2010

épica



'(vou me jogar passarin
no teu abraço sem fim)'
[http://tinyurl.com/2uq7xx2]

Coisa mais curiosa, essa. Pois que eu já havia feito poemas de cunho narrativo antes [http://tinyurl.com/2uyfj5r se lembram?], mas nunca dessa maneira. O que significa? Eu também não sei. Só sei que gosto. E quando me dizem que poemas não são pra entender? Poemas são pra sentir, não pra pensar, silly Gustavo. Sim, é bem o tipo de narrativa que nem todo mundo vai conseguir sentir, mas aqueles que chegarem lá hão de se deixar sorrir pelo simples impulso do entendimento mais puro e honesto. Você, que sabe bem o que é deixar a luz dos olhos iluminar a escuridão da beira de estrada em que se sangra, vai sentir um cheiro de alguém, um cheiro vivo, um cheiro cor-de-toque, e vai sorrir e talvez até se deixe cantar uma canção qualquer. Ou talvez seja muita pretensão minha. Mas esse é o tipo de poema que nunca acaba; Se você se deixa sentir, né?

Épica, sim. Ora, se eu não esqueço mais nunca.


madrugada abraçou, o sereno sorriu
amei em braille cada centímetro do teu corpo quente
cantei contigo en la distância dos lençóis
e mordi a metalinguagem do teu beijo


teu olhar me feriu profundo
e eu não paro de sangrar versinhos moreninhos sem futuro.









segunda-feira, 15 de novembro de 2010

retrato que ninguém vê

'vou colecionar mais um soneto
outro retrato em branco e preto
a maltratar meu coração'
Tom Jobim


Outro dia, meu tio Marcos (uma pessoa daquelas que dá gosto de ouvir falar e de conversar - e que se esconde aqui http://psicologomarcoslacerda.blogspot.com/) visitou meu perfil do orkut e se deparou com um trechinho de uma música linda do Clube da Esquina no meu about me (podem checar aqui http://tinyurl.com/3yvcysy ou aqui http://tinyurl.com/32udp7t e também aqui http://tinyurl.com/39soy2t) e veio me indagar se aquele pedacinho de Minas era de minha autoria. Eu, apesar de muito honrado, falei a verdade (naturalmente) e (naturalmente) levei um puxão de orelha por não pôr a referência. Ora!, que audácia de minha parte!, utilizar-me de poesia alheia sem dar o devido crédito. Inspirado nesse episódio, me senti na obrigação de escrever algo que falasse qualquer coisa de mim. Será que consegui?







Passo noites a fio tentando alcançar a cauda do universo
Tento beijar os lábios da madrugada e quase consigo uma vez – ela se distraiu.
Fiz de meu quarto de sonhar um pequeno solstício
E devo ser a maior concentração de caos por metro quadrado do quarteirão.
Gosto de ficar ao sol e de molhar minha juba
Mas prefiro molhar o sol pra ficar com a minha juba.
Danço pro sol, danço pra lua
Danço pra ser sol e pra ser lua.
Tenho vocação pra ser morro de Barro – entorto a bunda das paisagens
E fotografo as meninas que florescem no jardim.
Sou capaz de esconder seus nomes nos poemas
Só pra rir de mim mesmo, iludo que engano um qualquer.
Peco em voz alta, que dá mais futuro
Sangro em voz baixa, que é pra doer menos.
Pra fazer feliz, por sofrer, de te esperar, eu canto
Pra caetanear o que há de bom, eu canto.

Eu num presto nem pra poesia.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

e minha revelação

'dê asas ao amor que vive dentro de todo bom coração
pro mundo ser mais bonito em cada palmo de chão'


Sangrar vem sendo cada vez mais doce, deixando de lado qualquer instinto vampiresco que esta frase possa vir a excitar. Eis que é tempo, afinal, de sangrar. De plantar e esperar para colher. E sentir o cheiro de cada momento da espera, e gozar de cada suspiro farto deste cheiro que revigora. Correr para o mar, e ver que o mar estava dentro de mim. E sentir o cheiro do mar, e colher o mar. E correr para a rua, e ver que a festa estava em mim. E colher a festa. Correr para a dança, e ver que eu já bailava antes. Colher isso também. Colheita constante que me distrai nessa espera agridoce. Cada um colhe a cor e a milícia de ser o que é. Amém.





                                              meu segredo:
                                    tirar da espera
                              o desespero.
                                          beijar as sementes
                                         plantar o toque
                       regar tuas pétalas, colher desejo


sexta-feira, 5 de novembro de 2010

poesia, cadê?

'meu coração é um alazão passarinheiro'

Hoje não tem poesia.

Uma vez, uma moça bem inteligente me disse que é melhor não magoar um coração, pois você pode estar dentro dele. E olha que um outro moço também muito inteligente já me tinha alertado que sou responsável por aquilos que cativo. Mas eis que sou assim, esse ente de sílabas, o diabo solto no meio do redemoinho, e demoro pra aprender estas que são as lições mais simples e valiosas. E nos últimos tempos, o abandono a quem entreguei esta versorragia me atormentava de maneira tal que tive de dispensá-lo - o abandono pôs-se a construir aqui uma ruína, e essa cidade é muito pequena pra tanta ruína. Sabe-se lá quando me acometerão outras hemorragias!, só sei que daqui de dentro não saio. E olha que ousadia a minha, achar que este sangue pode talvez correr dentro de outros corações que não o meu. Leitores e leitoras talvez tenham sentido minha falta, e não é justo fazer isso com tão pacientes figuras - abençoados estes que se prestam às leituras das minhas veias. Meus caros y caras, também não é justo comigo, preciso pois deste espaço para dizer o que não digo, pensar o que não penso, cantar o que não canto e amar o que amo. Vejam vocês, que quando comecei a sangrar por aqui, sangrava porque sofria. E sofrer, meus caros y caras, é uma arte. E um vício. Mas minha ousadia não tem tamanho, e pensei que já era hora de virar o jogo. Hoje a felicidade desaba sobre mim, e não poderia haver chuva melhor. Mas o poeta só é grande se sofrer, ora!, um moço inteligente que já dizia. Um outro saltava de cantar que os poetas são feitos de corações devorados deglutidos mastigados engolidos. Pobres poetas!, então, sorte minha que sou só um ente de sílabas. Vou continuar fingindo que é amor o ardor que deveras sinto. Me assento cá neste banco, e daqui só me tiram vivo.

E eu achando que não ia ter poesia.